Estudos de Palestrantes Espíritas Capixabas - Não Nos Responsabilizamos
Pela Veracidade das Informações. A Responsabilidade é de Quem os Envia, Escreve ou Comenta!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Marcos André da Gama Bentes, Vice Presidente da FEEES - Federação Espírita do Estado do Espirito Santo

ALTERIDADE


1. INTRODUÇÃO – Somos Individualidades

O espírito Hammed, através da psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto (1), lembra-nos que necessitamos viver com naturalidade, participando efetivamente na sociedade e usando nosso jeito natural de ser, pois “possuímos talentos que precisam ser exercitados para que possam florescer”. Esses talentos estão esperando o nosso empenho, “a fim de colocá-los em plena ação no intercâmbio das relações com as pessoas e com as coisas”. “Não podemos então olvidar que viver no mundo é “entrar em contato com os espíritos de natureza diferente, de caracteres opostos” (2) , reconhecendo que cada um dá o que tem, vive do jeito que pode, percebe da maneira que vê, admitindo que, por se tratar de tendências, talentos e vocações, todos nós temos a peculiar necessidade de “ser como somos” e “estar onde quisermos” na vida social”. (1)

Mas, neste intercâmbio de aptidões e talentos, encontramo-nos constantemente em situações de conflitos que nos colocam a prova quanto a nossa capacidade de compreensão do nosso verdadeiro papel de espírito eterno, vinculado à lei do progresso. Não um progresso vinculado apenas ao desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos, pois “há homens que usam mal do seu saber. O progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existem”. (3)
Uma vez que este processo ocorre na vida de relação, vamos discutir as implicações da mesma, seus conflitos e as
dificuldades vivenciadas, com as soluções propostas pela Doutrina Espírita.


2. CONTO ZEN (Debate por um Alojamento) – Para reflexão e relaxamento:

Em alguns templos Zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no templo. Caso contrário terá de ir embora. Havia um templo assim no norte do Japão, dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.

Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento a eles. O irmão mais velho estava muito cansado, pois havia estudado por muitas horas. Assim, pediu ao mais novo que fosse debater: “Solicite que o diálogo seja em silêncio”, disse o mais velho. Pouco depois, o viajante voltou e disse ao irmão mais velho: “Que homem maravilhoso é o seu irmão. Venceu brilhantemente o debate. Assim, devo ir-me embora. Boa noite!”. “Antes de partir”, disse o ancião, ”por favor, conte-me como foi o diálogo”. “Bem”, disse o viajante, “primeiramente ergui um dedo simbolizando Buda. Seu irmão levantou dois dedos, simbolizando Buda e seus ensinamentos. Então, ergui três dedos para representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos. Daí, seu inteligente irmão sacudiu o punho cerrado em minha frente,
indicando que todos os três vêm de uma única realização”.
Com isso, o viajante se foi. Pouco depois, veio o irmão mais novo parecendo muito aborrecido. “Soube que você venceu o debate”, falou o mais velho. “Que nada!” disse o mais novo, “esse viajante é um homem muito rude”. “É?” disse o mais velho, “conte-me qual foi o tema do debate”. “Ora”, exclamou o mais novo, “no momento em que ele me viu, levantou um dedo insultando-me, indicando que tenho apenas um olho. Mas por ser ele um estranho, achei que deveria ser polido. Ergui dois dedos, congratulando-o por ter dois olhos. Nisto, o miserável mal-educado levantou três dedos para mostrar que nós dois juntos tínhamos três olhos. Então fiquei louco e ameacei-lhe dar um soco no nariz – assim ele se foi”. O irmão mais velho riu. (4)


3. COMO NOS SITUAMOS – Na nossa vida de
relação?

Este conto permite discutirmos questões específicas sobre os problemas da comunicação, inclusive. Mas, vamos olhar mais profundamente os tipos psicológicos apresentados em cada personagem.

Entre outras possibilidades, podemos enquadrar estes personagens com as seguintes características:

? Irmão mais velho – intelecto / razão
? Irmão mais moço – natureza / instinto
? Monge errante – raciocínio em vigília

Algumas questões fazem-se necessárias, no sentido de provocar-nos a reflexão:

- Onde estamos?
- Em qual destes perfis apresentados mais comumente nos situamos?
- Em quais destes perfis mais interagimos?


4. ALTERIDADE – A Alteridade como
solução

No livro “Nosso endereço de luz pede mudanças” (5), a autora (Saara Nousiainen), citando trechos do livro “Seara Bendita” (6), descreve a observação de Bezerra de Menezes, Espírito, sobre as Fases do Espiritismo. A autora destaca, resumidamente, que tivemos uma primeira fase de aproximadamente 70 anos, que representou a legitimação da ciência e da filosofia espírita, vivenciada intensamente por Allan Kardec e seu contemporâneos, principalmente. Uma segunda fase, com idêntica duração, teve como síntese a proliferação do conhecimento espírita, exemplificada pela intensa divulgação do livro espírita, em especial àqueles produzidos pela mediunidade de psicografia de Francisco Cândido Xavier. A terceira fase, que teve início junto com o novo milênio, é percebida como àquela que dará lugar à maioridade das idéias espíritas. Será, conforme citação de Bezerra de Menezes, o período da atitude. Assim, nos vemos diante de um grande desafio: a exemplificação da moral do Cristo, como Evangelhos vivos a sensibilizar e contaminar positivamente todos os demais. Estamos prontos para esta fase de atitude? A Alteridade como conceito: “Alteridade significa considerar, valorizar, identificar, dialogar com o outro (alter, em latim). Diz respeito aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais. Na relação alteritária, o modo de pensar e de agir, as experiências particulares, são preservadas e levadas em conta sem que haja sobreposição, assimilação ou destruição”. (7)

Três etapas são percebidas na elaboração de uma relação com base na alteridade:

- Identificar o contrário;
- Entendê-lo nas suas diferenças;
- Aprender com estas diferenças.

“Eis o desafio: estabelecer uma relação pacífica e construtiva com os diferentes”. (7) Ou, como dizia Martin Luther King (líder pacifista negro, norte-americano): “Ou aprendemos a viver como irmãos, ou vamos morrer juntos como idiotas”. Este processo, contínuo, possibilita o crescimento e o amadurecimento das relações, de aflitivas para afetivas. E este raciocínio tem sido o grande desafio nas relações entre indivíduos, grupos, povos, nações... Há muito tempo!


5. IDENTIFICAR
E ENTENDER – Processo histórico dos diferentes caminhos:

Oriente e Ocidente.

Dois caminhos distintos foram historicamente percorridos pelos povos orientais e ocidentais, nos últimos séculos, sendo claramente identificados no texto a seguir: “Por ter negado às vezes o lado espiritual da realidade, a filosofia ocidental tornou-se prisioneira da razão; por ter ficado sob a tutela da religião, a filosofia oriental freqüentemente abandonou a razão”. (8)

A síntese histórica destes dois caminhos é percebida com a divulgação da Doutrina dos Espíritos, que proporciona o ponto de equilíbrio naquilo que estas duas culturas têm de melhor a oferecer. “Kardec fez o caminho inverso da escolástica medieval, que pretendia justificar a fé pela razão e submetia a razão à fé”. “E, no caso, essa fé era controlada pela Igreja católica, uma instituição poderosa, que tinha seus interesses econômicos e políticos”. (8) “O espiritismo faz a crítica da fé, a partir da razão, mas sem ferir-lhe a essência”. (8)


6. KARDEC – Resposta racional a problematização
dos conflitos:
.
Compreensão da Fé - “Nem o judeu, nem o muçulmano, nem o hindu, nem o budista dependem necessariamente do clero instituído para obterem salvação. (...) apesar dos rituais que têm, não há uma intermediação institucional entre o homem e Deus.” (8)

A fé raciocinada - “Kardec propôs uma forma de conhecer integrada de todas as áreas: sem o conflito entre ciência e religião, sem a subjugação da filosofia, sem a exclusão de nenhum instrumento possível que se debruce sobre o homem e o universo. (...)”.(8) “Há uma unidade essencial no universo: um só Deus, uma só realidade, uma só capacidade do homem de compreender e interpretar essa realidade. (...).” (8)

“Assim, o conhecimento que é fruto do diálogo entre as diversas áreas tem um sentido pessoal e uma garantia na subjetividade do ser. Não é apenas conhecimento objetivo, é experiência subjetiva.” (8) Diante desta compreensão, podemos corroborar com a afirmativa seguinte, de que o
“Espírita não é aquele que simplesmente acredita na reencarnação, mas aquele que se sente e se sabe um espírito antigo; não é aquele que apenas crê na manifestação dos espíritos, mas aquele que distingue e segue a inspiração dos bons e para quem a percepção do mundo espiritual é fato natural e corriqueiro da vida cotidiana.”
(8)


7. ESPIRITISMO NO BRASIL - Porque o “pensamento”
da Doutrina Espírita interpôs-se entre nós, no Brasil, tão efetivamente:

Diante de todo o caminho traçado pela Doutrina Espírita na Europa, com a fase de legitimação da ciência e da filosofia espírita consolidada, estranham alguns do porque esta Doutrina não se fixou naquele povo aparentemente preparado para sustentar esta etapa de transformação moral da humanidade. A preparação científica e filosófica com certeza havia, mas faltava vencer alguns dos seus preconceitos, profundamente enraizados.

O Dr. Sergio Felipe, da USP, advoga a idéia de que o povo de
Israel era aquele mais preparado para a vinda do Cristo, não só pelas suas características monoteístas, trazidas por Moisés, mas também porque naquela região onde este povo se localizou, seria a confluência natural por onde passaram
as grandes culturas, influenciando e sendo influenciada, ao longo de séculos de dominação. Estas provas sustentaram
as bases deste povo, que com isso possibilitou a vinda do Mestre. Da mesma forma, sob a ótica do Dr. Sergio Felipe de Oliveira, o Brasil apresenta as condições básicas, sócios-culturais-espirituais, de instalação da Terceira Revelação –
a Doutrina Espírita, corroborando o que está descrito no livro “Brasil - Coração do mundo, Pátria do Evangelho”. (9)
Da mesma forma a Prof.ª Dora Incontri apresenta três condições que, em sua opinião, foram determinantes para a instalação desta Doutrina em nossas terras: (a) somos um povo mediúnico, naturalmente interexistencial, um povo de fé (...) (b) proclamamos a nossa capacidade de convivência pacífica entre diferentes religiões, culturas e etnias (...) (c) nossa capacidade afetiva, o modo de nos relacionarmos, caloroso, informal, amistoso é uma riqueza enorme, muito propícia ao princípio da fraternidade cristã.(8)


8. A CASA ESPÍRITA – Núcleo.
Associação. Vivência espírita:

Mas, como anda a prática da alteridade nos nossos núcleos espíritas, que em tese, deveria ser a exemplificação de tudo que vimos até aqui? “Há muito a aprender sobre alteridade nos agrupamentos espíritas, principalmente porque o Espiritismo só poderá influenciar os vários campos do conhecimento humano se conseguir se inserir de maneira harmoniosa junto àqueles que atualmente pensam divergentemente de seus postulados. As idéias espíritas predominarão na Terra um dia pelo alteritarismo de relacionamento e não pelo autoritarismo de comportamento”. (7)

– amparo ao trabalhador espírita: o que temos para oferecer: “O trabalhador da Casa Espírita, em sua grande maioria”:

• Chega à Casa Espírita como Espírito necessitado de orientação e socorro (“Vinde a mim todos vós que sofreis”);

• Passa por período de “tratamento” para aliviar os problemas que o afligem;

• Percebe, esclarecido pelo estudo, que vícios e imperfeições
morais indicam desarmonias enraizadas em si e que podem acarretar vínculos com espíritos oportunistas também nas mesmas faixas de desarmonias;

• Recebe o Atendimento Espiritual e, concomitantemente, o trabalho-amor, em serviço de ajuda ao próximo (“Tomai a vossa cruz e segui-me”);

• “Transforma esse serviço fraterno em um grande esforço de auto ajuda e auto iluminação”. (9)

“É importante, nos núcleos de filosofia espírita, que possamos exercitar a convivência e a ambiência democrática e participativa, sem nos esquecermos, é claro, das balizas que norteiam qualquer associação e/ou trabalho”. (...) “É, acima de tudo, uma vivência espírita, que se torna natural na medida em que, individual e coletivamente, invistamos no processo”. (10) - Alteridade como solução nos grupos espíritas e externamente aos mesmos: “Sendo o Centro Espírita um lar-escola-hospital-oficina de trabalho e casa de oração, deve ter os recursos para amparar aos seus trabalhadores, quando suas forças fenecerem e sua dor o impeça de buscar seus recursos próprios”.

Assim, deverá fornecer os recursos:
- Do atendimento espiritual
- Do atendimento mediúnico
- Da compreensão e da compaixão
- Do auxílio mútuo
- Da consolação
- Do auto-conhecimento.

Através de um programa de estudo evangélico-doutrinário, como forma de profilaxia e/ou atendimento”. (9)

9. VIAGEM NO TEMPO – O que nos

propõe a Lei de Progresso?

Se ainda estamos indecisos ou temerosos do que fazer; ainda apegados ao nosso pequeno ego, vamos acompanhar a viagem seguinte, ao espaço, para refletirmos sobre os trabalhos de Deus. Buraco negro - Esta foto de um buraco negro nos induz a pensar para onde caminha toda esta massa interestelar, ou seja, o que faz com que a vida de milhares de sois e planetas caminhem para esta concentração de energia, que um dia nos sugará... Fim de uma estrela – Esta imagem retrata o que acontecerá com o nosso Sol um dia, encerrando todo um processo de vida na matéria, tal qual a conhecemos. Fecundação espacial – Mas, no macrocosmo, existem vida sendo preparada, qual esta aproximação de orbes em formação. Ninhos estrelares (geral) – E a vida se renova com a formação de novos sois a partir das “poeiras estelares”. Ninhos estrelares (em detalhe) – Neste detalhe pode ser observado alguns novos sois nascendo e se projetando para o espaço, iniciando um novo ciclo de vida. Novas formações – E a vida continua... Se, após tudo o que lemos e vimos (e pensamos) tivermos ainda alguma dúvida sobre qual é o nosso papel aqui, em mais uma das etapas deste processo contínuo de reencarnação, lembremos do Cristo, nossa meta e governador deste orbe, que indicou o caminho para sermos tal qual a ele, num futuro próximo. O que estamos fazendo para que isto seja um fato, na nossa vida de relação? É a alteridade uma prática comum no nosso dia-a-dia?


10. BIBLIOGRAFIA E CITAÇÕES:

(1) – Livro “Renovando Atitudes”, Capitulo Viver com naturalidade, p. 165, Francisco do Espírito Santo Neto, pelo espírito Hammed.

(2) – Livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capitulo XVII, item 10.

(3) – Livro “Entrevistando Kardec”, Capitulo Progresso, p.149, Suely Caldas Schubert.

(4) - Livro: “Mensagens dos Mestres” – Antologia Espírita e Popular, Antônio F. Rodrigues – Editora EME.

(5) – Livro “Nosso endereço de luz pede mudanças”, Saara Nousiainen.

(6) - Livro “Seara Bendita”, Wanderley e Maria José Soares de Oliveira, diversos espíritos; citando Bezerra de Menezes
– Congresso Espírita Brasileiro – Goiânia, 05/10/1999, em comemoração ao 50° do Acordo da Unificação – O Pacto Áureo.

(7) – Texto na Home-Page da ABRADE - “A prática da Alteridade” - Quando a diferença é que soma - Carlos
Pereira (PE) - carlosjfp@uol.com.br.

(8) - Livro “Para entender Allan Kardec”, p. 66, 72 e 101 – Dora Incontri – Editora Lachâtre.

(9) – Texto FEB sobre a Atividade de Assistência Espiritual ao Trabalhador Espírita – Comissão Regional Centro – Cuibá, MT - 2004.

(10) - Texto na Home-Page da ABRADE - “Alteridade na seara espírita” - Marcelo Henrique (SC) - cellosc@bol.com.br .

Citações:

- Livro: “Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” (Francisco Cândido Xavier / Humberto dos Campos) – FEB.

- Palestra: “O Cientista Maior” - III Jornada da Associação Médico-Espírita do Estado do Espírito Santo – AME/ ES, “A Ciência do 3º Milênio: O Cientista Jesus” – 15, 16 e 17/09/2000 – Vitória, ES.

- Fotos do Espaço – Observatório Espacial Hubble – NASA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário